quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Lula a 1 dia do Prêmio Nobel da Paz



Lula a 1 dia do Prêmio Nobel da Paz: Daqui a 24 horas, provavelmente, o ex-presidente Lula será anunciado como vencedor do Prêmio Nobel da Paz. Assista ao vivo no Blog do Esmael.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Nem com milagre (Luiz Taques)

Nem com milagre (Crônica de Luiz Taques)



Não há força capaz de vencer a frouxidão moral



(Ilustração: Acir Alves)

(Ilustração: Acir Alves)

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Postres y Masitas: Bolitas de coco

Postres y Masitas: Bolitas de coco: ¿En tu casa se suele utilizar el coco en las recetas de cocina? Si todavía no lo has hecho, puedes empezar a conocer el exquisito y exótico...

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Escritor aborda o estilo de vida de rua imaginária da sua cidade natal

Escritor aborda o estilo de vida de rua imaginária da sua cidade natal: pEscritor aborda o estilo de vida de rua imaginária da sua cidade natal/p

LÉIA DA MOTA E SILVA (IN MEMORIAM)


LÉIA DA MOTA E SILVA (IN MEMORIAM)

Neste domingo, dia 2 de junho, chega-nos a fatídica notícia, por meio de minhas irmãs, da eternização da querida Amiga de infância Léia da Mota e Silva, neta dos igualmente queridos e saudosos Amigos de primeira hora, o Senhor Inácio Ramos da Silva e Dona Aniceta da Mota e Silva, que se eternizaram há algumas décadas. A Amiga Léia era filha do saudoso Senhor Leandro da Mota e Silva e irmã do igualmente saudoso Mário da Mota e Silva.

Lembro-me de Léia, ainda criança, brincando ao lado da também saudosa prima Solange, quase da mesma idade de minhas irmãs do meio, e de (se a memória não tiver me traído) Tereza, filha do saudoso Senhor Washington da Mota e Silva e Dona Raquel, na primeira festa junina que vi na Vida, em 1965. Corumbá, na época, cultuava o São João dentro da tradição cuiabana, com pau-de-sebo, fogueira e todas aquelas delícias típicas na frente da casa. Para nós, recém-chegados, tudo aquilo era novidade, e aquela alegria incontida nos cativava, ainda que também nos causasse algum estranhamento.

Pouco menores, as primas Vilma (irmã caçula de Solange), Suzane e Sandra e os primos Aguinaldo e o saudoso Otávio (dois casais de filhos de Dona Natália e de Seu Arruda) também se integraram aos festejos anuais da Família Mota e Silva, em anos posteriores. Então, os filhos do saudoso Dorival da Mota e Silva (o querido Dori) também já estavam crescidos.

Já adolescentes, Léia e Solange eram grandes Amigas de minha irmã Fati, e compartilhavam livros e revistas de todo tipo, além de dedicarem tempo também para os estudos. Lembro-me bem de uma redação da Léia que era de fazer inveja aos mais eruditos alunos dos concorridos professores de Língua Nacional (como a disciplina de Língua Portuguesa era então chamada). Essas duas Amigas eram reconhecidamente estudiosas, muito inteligentes e trabalhadoras, talvez o casamento precoce tivesse contribuído para não prosseguirem com seu projeto de estudos.

Ao revelar-se grande Mãe, Léia priorizou sua Família, apoiando seu único companheiro de Vida e estando presente na trajetória de todos os filhos, entre eles, o Anderson, a Adriana e a Natália, que seguiram seu próprio rumo, mas sem perder o vínculo afetivo com ela. Com todas as adversidades que a Vida lhe apresentou, ela mesma reabilitou o esposo adoentado, sempre com o pulso firme, mas sem perder o afeto, o carinho. Da mesma forma, quando começou a se sentir mal, apesar da angústia, dedicou todo o seu tempo, lúcida e afetuosa, para orientar o filho a continuar a reabilitação do pai e outras providências da Família, como que soubesse que seu tempo estava no limite.

Léia e seu irmão Mário, desde tenra idade, foram assistidos pela Tia e Madrinha Dona Chula, a saudosa Senhora Lucélia da Mota e Silva, filha mais velha de Seu Inácio e Dona Aniceta, que era uma exímia costureira e um ser humano de uma generosidade ímpar. Carros e mais carros com senhoras da sociedade (como se soía dizer na época) paravam na porta de sua casa para encomendar a confecção de roupas de todos os tipos, dos mais simples aos mais sofisticados. Embora solteira, Dona Chula dedicou toda a sua Vida aos afilhados, irmãos, sobrinhos, sobrinhos-netos e demais parentes e amigos que precisassem de ajuda, afeto e atenção. Até o final de seus dias, sem qualquer gesto de esnobismo, viveu a caridade em toda a sua extensão, com profunda leveza, alegria, descontração e irreverência.

A Família Mota e Silva é, ao lado da Família da querida e saudosa Dona Ventura Ferreira e de Dona Eusébia dos Santos, uma referência, para toda a minha Família, da dignidade e hospitalidade do corumbaense “da gema”. Assim que chegamos a Corumbá, depois de termos residido pouco mais de mês aos fundos da loja de armarinhos de meu querido e saudoso Pai, à rua Joaquim Murtinho, entre as ruas Frei Mariano e Antônio Maria (ao lado do açougue do saudoso “Massa Barro”), nos mudamos para o endereço da Família por mais de 50 anos.

A mudança, de aproximadamente duas quadras, foi feita num caminhão modelo “Gigante”, da Chevrolet, pelo saudoso Senhor Jardes, o popular “Teté”, que, poucos anos depois, não resistiu ao ataque de uma boca-de-sapo, no Pantanal, quando foi consertar um trator numa fazenda muito distante. Seu “Teté” era esposo da saudosa e querida Dona Lucinda da Silva Jardes (Dona Lucha), pai da querida e saudosa Solange da Silva Jardes, precocemente eternizada em fins da década de 1990 ao dar à luz sua terceira filhinha, que também se eternizou com a Mãe. Além dela, a também sempre guerreira Vilma da Silva Jardes, filha caçula, hoje residindo com o esposo e o filho em Campo Grande.

O meu primeiro Amigo na Vida -- o Senhor Inácio, além de grande chefe de Família, era magarefe dos tempos dos saladeiros, das charqueadas. Nascido em 1905, depois de aposentado se dedicou à carpintaria até os derradeiros dias de sua existência, interrompida em 1987 --, mais de 50 anos mais velho que eu, era, obviamente, Amigo de meus saudosos Pais, e uma Amizade (dessas com letra maiúscula) foi se desenvolvendo com toda a sua querida Família e a nossa, sem qualquer interesse ou pretensão. Mais que vizinhos, são parte de nossa história em Corumbá.

Hoje, quando a agora saudosa Léia parte para a eternidade e deixa filhos e netos, nos solidarizamos com todos esses queridos Amigos que a Vida nos presenteou, em particular Seu José Milton e Professora Judite, Dona Natália e Seu Arruda, e a Professora Angelita e Seu Jubiraci (o querido Bira). Lembremos que o amor de Seu Inácio e Dona Aniceta é o grande alicerce e conforto para continuar a Jornada infindável. Por isso, força, fé e resignação neste momento de profunda dor e saudade infinita.

Até sempre, Amiga Léia! Sua Amizade sincera viverá sempre em nossos corações...

Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 10 de maio de 2019

FARID YUNES, JORNALISMO COM CORAGEM


Farid Yunes, Jornalismo com coragem

Na mesma semana em que se silenciou o precoce Gianni Carta -- filho do grande Mino Carta --, o Jornalista Farid Yunes Solomini, diretor-responsável do Correio de Corumbá, eternizou-se, depois de uma longa e tenaz luta contra o diabetes, uma doença silenciosa que vitima grandes contingentes humanos. Viveu da mesma forma com que atuou na imprensa nas últimas décadas: aguerrido, incansável, determinado. Tal como no Jornalismo, na Vida ele foi um resistente solitário, um verdadeiro estoico na ciência da comunicação, tendo escolhido o lado da História, sobretudo em seus derradeiros anos, com bravura e dignidade.

Ainda jovem, início dos anos 1980, quando trabalhou como recenseador com duas de minhas Irmãs no primeiro Censo Demográfico do IBGE do então recém-criado Mato Grosso do Sul, em Corumbá, Farid revelou-se um eficiente companheiro de equipe, pois, com lealdade e compromisso, soube executar todo o seu trabalho com eficiência e humildade. Mais que colegas, ele ganhou amigos para a Vida toda. Do mesmo modo na imprensa, a despeito de seu jeito, no dizer de alguns colegas, polêmico, ofício que abraçou bastante jovem, contemporâneo de grandes comunicadores e jornalistas que marcaram, como ele, época: Edson Moraes, Gino Rondon, Jonas de Lima, Juvenal Ávila, o saudoso e querido Augusto Alexandrino dos Santos (“Malah”) e tantos outros não menos talentosos e importantes para a história da radiofonia e do jornalismo do País.

O querido Amigo e Jornalista Rodolfo Rondon, aliás, irmão do Gino, foi preciso em seu depoimento para a equipe da televisão Morena, que cobriu com dignidade a despedida ao agora saudoso Farid -- tendo mostrado, de forma isenta a completude de uma personalidade marcante, que por isso fez história --, ao lembrar com riqueza de detalhes episódios emblemáticos próprios da geração iluminada de que fez parte, e sobretudo assegurar plena liberdade: ser Jornalista não é apenas saber descrever ou até analisar o cenário de seu tempo, mas tomar o lado justo, como um educador e um cidadão deve tomar. Essa escola de jornalistas rastejantes ante o poder é coisa do passado...

Conheci o Farid quando, ao lado de seu também saudoso Irmão, o Jamil da Embratel, grande Companheiro de lutas que marcou sua trajetória na história, fazia parte da equipe da gloriosa Jovem Clube, e o igualmente saudoso e querido senhor Pedro Júlio (esposo da querida e saudosa Amiga Maria Auxiliadora Júlio, a Mana, e depois chefe da Embratel) era responsável técnico da emissora. Num tempo em que cobrir viagens de representantes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) era passível de punição, o então jovem repórter da Jovem Clube teve a coragem de entrevistar ao vivo, na chegada no Aeroporto Internacional de Corumbá, o seu xará Farid Suwan, então chefe do escritório de representação palestina em Brasília.

Já no início da Nova República, quando os ventos democráticos varriam o entulho autoritário do regime de 1964 e o Brasil se preparava para a Assembleia Nacional Constituinte, Farid integrou a equipe do Prefeito Hugo Costa, o primeiro a ser eleito pela via direta depois do Prefeito Breno Medeiros Guimarães. Apesar de todo o apoio conferido pelo primeiro governador eleito democraticamente da história de Mato Grosso do Sul, o saudoso Doutor Wilson Barbosa Martins, era um período muito difícil para Corumbá, cujos elos históricos com Cuiabá ainda eram fortes e todos os segmentos econômicos e sociais ainda se ressentiam da ruptura representada pela divisão de Mato Grosso, sobretudo o Pantanal.

Embora discreto, Farid estava conectado com importantes profissionais da imprensa na luta democrática, entre eles o querido e sempre combativo Jornalista Edson Moraes, um Companheiro que honra o cosmopolitismo e o vanguardismo de Corumbá em todos os tempos. Na luta pelas Diretas, era Farid e o também saudoso Roberto Hernandes, então cunhado do querido e saudoso Jornalista Márcio Nunes Pereira (à época repórter do Diário de Corumbá e fundador, com o cunhado, de A Gazeta, de breve existência, que funcionava em frente ao escritório do saudoso Doutor Joilce Viegas de Araújo), que se expunham na cobertura daquela celebração da cidadania, mas com poucas adesões em nossa região, em que a querida e saudosa Heloísa Urt, a Marlene Peninha Mourão, José de Oliveira e o Edmir Abelha Figueiredo de Moraes mobilizavam.

No segundo mandato do saudoso Prefeito Fadah Gattass, ao lado do querido Amigo Armando Carlos Arruda de Lacerda (então assessor especial), Farid, como secretário de Comunicação Social, deu todo apoio para a realização do pioneiro movimento pela preservação do patrimônio histórico e cultural de Corumbá, a Sociedade dos Amigos da Cultura (coordenada pelo saudoso senhor Lincoln Gomes), que, de 14 a 20 de setembro de 1991, realizou a I Semana da Cultura diante da Casa de Cultura Luiz de Albuquerque (o emblemático ILA), que parecia mais um mausoléu que um museu. Jamais iremos esquecer que a Prefeitura de Corumbá inaugurou seu moderníssimo sistema de sonorização, adquirido pela Secretaria de Educação e Cultura, com aquele evento de uma semana, e que teve como apresentadoras as queridas Amigas Nicole Kubrusly (à época apresentadora do jornal da então TV Cidade Branca) e a Doutora Sidnéia Tobias (a primeira titular da Delegacia da Mulher em Corumbá), sob a consigna de “abra seu coração para a cultura: adote o ILA!”.

Farid Yunes continuou à frente da Secretaria de Comunicação em todo o mandato do prefeito Ricardo Candia e em parte do primeiro mandato do prefeito Eder Brambilla. Nesse período, por conta da política, distanciou-se de seu Amigo Márcio Nunes Pereira, que como diretor-responsável do Diário de Corumbá, embora ainda se falassem cordialmente ao telefone, passou a adotar uma linha combativa em relação ao governo Pedro Pedrossian, ao qual Candia se aliara, sobretudo depois do leilão de privatização da Urucum Mineração S/A na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em agosto de 1994. Com a eleição de Eder, que contou com o apoio do Doutor Joilce, houve uma discreta aproximação entre os velhos Amigos, mas logo Márcio se eternizou, em agosto de 1997.

Ainda que eu tivesse merecido um “puxão de orelha” na emblemática coluna do Farid certa ocasião (e, confesso, quando escrevi uma fonte próxima me havia assegurado que a nota que eu criticara não era de sua lavra, até por conta da maneira como havia sido escrita), quase sempre estivemos do mesmo lado, o da História, fosse na conquista das liberdades democráticas no início da década de 1980 ou na defesa do Estado Democrático de Direito e contra o golpe de 2016 recentemente, o que muito me conforta. Mas, neste momento em que se eterniza, me entristece muito, sobretudo do lado humano e profissional -- afinal, jornalistas com sua magnitude e coragem estão cada vez menos nas redações digitalizadas e, lamentavelmente, desumanizadas --, até porque ele merecia estar presente no momento da vitória contra as trevas que ameaçam se abater sobre a população brasileira neste triste momento de nossa história.

Felizmente Farid soube, também no âmbito de sua Família, formar com excelência cidadãos íntegros para que levem o bastião da vanguarda e da resistência que tão bem soube empreender sobretudo nestas décadas. Tenho a honra e felicidade de ter conhecido o Ale e sua Companheira, a Sílvia, há algum tempo -- precisamente há seis anos, quando da eternização do querido Malah, oportunidade em que criamos conjuntamente um blogue em sua memória --, o que me dá a certeza de que o Jornalismo combativo e formador de cidadãos continuará a iluminar as mentes carentes da boa informação em nossa região.

À querida Família Yunes nossos sentimentos e sinceros votos de resignação, na medida do possível, e o testemunho de que o eterno Farid fez história, com coragem e altivez. Força, muita força e resiliência neste momento de dor e saudade...

Até sempre, Farid, e transmita um fraternal abraço ao Márcio Nunes Pereira nesta sua nova jornada!

Ahmad Schabib Hany

domingo, 5 de maio de 2019

MEMÓRIA: MEUS DIAS PRIVILEGIADOS AO LADO DE GIANNI CARTA (MATHEUS PICHONELLI)


HOMENAGEM PÓSTUMA AO JORNALISTA GIANNI CARTA, FALECIDO NESTE DOMINGO, 5 DE MAIO DE 2019, NUMA CIDADE DO SUL DA FRANÇA...

Memória: meus dias privilegiados ao lado de Gianni Carta

GIANNI CARTA (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Ele se tornou, para todos os que trabalharam com ele, uma referência, um amigo

Eu queria saber me despedir dos meus amigos sem precisar falar de mim e de tudo o que aprendi com eles, mas no caso do Gianni, que morreu neste domingo, por volta das 7h, em Paris, em decorrência de complicações de um câncer nas vias biliares, isso é quase impossível.
Em 2011, eu trabalhava como editor interino do site de CartaCapital enquanto esperava a chegada do novo chefe, que em breve assumiria o posto. O chefe seria o Gianni Carta, de quem até então só conhecia como leitor.
Os momentos que antecediam sua chegada ao Brasil, vindo da Europa, tinham a marca daquela tensão das novidades: o novo chefe, afinal, traria na bagagem uma larga experiência como correspondente, livros publicados, dezenas de entrevistas com figuras históricas. Como me comportar sem que parecesse, perto dele, um foca, como chamamos os jornalistas em começo de carreira?
“Fica tranquilo, ele é gente finíssima”, diziam todos os que o conheciam. Todos mesmo.
Mal sabia que estava prestes a ganhar muito mais do que um chefe – e não só porque se tratava de um chefe que delegava e perguntava nossa opinião antes de tomar qualquer decisão, coisa rara em qualquer profissão.
Durante meses sentamos um de frente para o outro e pude atualizar o conceito de privilégio. De onde estava, ficava admirado com a facilidade com que ele falava com meio mundo por telefone (em francês, inglês, italiano, espanhol; só dependia de quem estava do outro lado da linha).
Não tinha dia que ele não chegava com o jornal rabiscado, mostrando empolgado os assuntos do dia, mostrando qual tema poderíamos abraçar e contar do nosso jeito – no caso, nós, os “meninos do site”, um grupo que, como todos naquele início dos anos 2010, ainda não sabia exatamente para onde nos levava a tal da internet.
Um dia, vendo minha decepção ao ler os comentários de leitores a referendar as ideias (já então em voga) obscurantistas de um vereador que queria instituir em São Paulo um certo “Dia do Orgulho Hétero”, ele me perguntou: “por que você não escreve uma pensata sobre isso?”
Era uma sugestão pouco comum para quem, caxias como eu era, ainda andava abraçado aos manuais da impessoalidade jornalística debaixo do braço.
“Como assim pensata, Gianni? Não posso dar minha opinião. Isso me compromete”.
Foi então que ele me ensinou que o problema não era ter opinião sobre fatos, mas como as opiniões interferem nos fatos. Que podemos ser justos e honestos com o leitor quando expomos nossas convicções e deixamos claro o que pensamos e o quanto estamos abertos a novas ideias – inclusive para mudar de opinião.
Se não fosse essa conversa eu jamais teria feito qualquer texto opinativo no meio do noticiário – e é o que tenho feito, desde então, há mais de oito anos.
No breve período em que ele ficou no comando do site, fiz amigos para a vida inteira, muitos apresentados por ele. Tão Gomes Pinto, Edgard Catoira, José Antonio Lima, Fernando Vives, Maria Clara Parada, Clara Roman, Lino Bocchini, Gabriel Bonis e tantos outros que fizeram daquele site um espaço de debate dos mais aguerridos.
Tudo isso só aconteceu porque tínhamos o apoio, as orientações, a confiança do Gianni. Não é pouco.
Em pouco tempo, ele se tornou, para todos os que trabalharam com ele, uma referência, um amigo e um parceiro de viagens, como a que fizemos até Valinhos, onde fomos recepcionados como reis em um churrasco oferecido pelo Dó, velho amigo da família.
Quando ele decidiu voltar a Paris, fizemos uma grande despedida no bar onde rabiscávamos nossas ideias.
Foi a última reunião daquela turma que ele ajudou a formar. Mal sabia que, naquela noite, nos despedíamos também de uma época – uma época em que ainda era possível pensar em um país mais generoso, mais humano, mais elegante – como ele era.
De longe, seguíamos em contato. Foi do Gianni, de Paris, um dos primeiros telefonemas que recebi quando meu filho nasceu, prematuro, precisando de forças e bons pensamentos.
No breve telefonema, deu tempo de lembra-lo de uma antiga promessa: a de que ele faria o prefácio do meu livro quando finalmente reunisse todas crônicas (“pensatas”, como ele gostava de dizer) da nossa época para publicação em papel.
Pudera: ele foi peça fundamental para que elas surgissem. E vai seguir assim para sempre, guardado nas melhores lembranças. Junto com a saudade e a gratidão.
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ESCRITO POR 
É formando em jornalismo e ciências sociais, foi editor-assistente do site de CartaCapital entre 2011 e 2014. Escreve sobre cinema, política e sociedade.


https://www.cartacapital.com.br/opiniao/memoria-meus-dias-privilegiados-ao-lado-de-gianni-carta/

terça-feira, 16 de abril de 2019

RÉQUIEM PARA WERTON BENEVIDES JUNIOR


Réquiem para Werton Benevides Junior

A eternização, no início de abril, do arquiteto Werton Augusto Benevides Junior causou a todos os que tiveram a felicidade de conhecê-lo um profundo pesar. É verdade que só se eterniza quem já atingiu um nível de sublimidade singular, um grau de desprendimento único, coisas que o agora saudoso e querido Amigo atingiu com a maior brevidade. Mas não há palavras capazes de justificar como uma pessoa com tamanhas qualidades possa ter deixado este conturbado mundo logo quando era mais que imprescindível: inteligência, vontade de contribuir e generosidade a serviço de uma coletividade tão necessitada como a nossa...

Nascido em Corumbá, filho de família proletária (o saudoso pai, Seu Werton, taxista), Werton era o caçula de três grandes seres, que são (foram) Jorge Benevides (falecido há aproximadamente cinco anos, ex-líder estudantil do curso de Agronomia do então Centro Universitário de Dourados da então UFMS, ao lado do igualmente querido Gumercindo, o Guma que ajudou Chico Mendes em Xapuri, Acre, e depois foi trabalhar, por meio de concurso público, no Itamaraty, em Brasília) e a querida Gegê (que me perdoe, mas não conheci seu nome, embora tivesse sido colega e amiga de uma de minhas irmãs, e que vim saber que recentemente trabalhava na Secretaria de Saúde de Campo Grande).

Desde tenra juventude esse ex-companheiro de república de estudantes, nos fins da década de 1970, sempre se caracterizou por sua inesgotável paixão pela Vida. Talentoso e de uma alegria e humor sem fim, contagiava entusiasmo a todos aqueles que com ele conviviam. Ele era o caçula, o mascote de uma turma numerosa e diversa, como o povo corumbaense e ladarense, tão bem representados nessa réplica miniaturizada dos habitantes do coração do Pantanal e da América do Sul. Isso no início da transição para a democracia, fins da década de 1970 e começo dos anos 1980.

Sob a liderança do querido e saudoso Oscar Rodrigues Brandão, mais experiente e responsável por todos nós e que se eternizou no início do segundo ano de convívio, aos 23 anos, vítima de uma doença silenciosa, estavam no início de 1979 os Amigos Raul Herrera, Arilson Aranda, Ronaldo Ribera, Tadeu Bueno, Bento Figueiredo, José Carlos Machado e José Guilherme Bueno (depois, obviamente, chegaram outros, igualmente queridos). Werton, tão logo chegou a Campo Grande, foi logo se enturmando, embora fosse o único “menor de idade” de toda a rapaziada.

Por meio de amigos do irmão mais velho, Jorge Benevides, conheceu os então jovens arquitetos Celso e Eudes Costa, e não demorou muito para Werton trabalhar como desenhista. E foi graças à generosidade desse agora saudoso Amigo que pude, um tempo depois, conhecer os dois arquitetos, à época em que eram responsáveis pela construção da nova sede da Santa Casa de Campo Grande, e pedir a eles uma cópia simplificada desse seu projeto, o que o fizeram prontamente, pois nessa época eu tinha uma irmã fazendo a graduação em Arquitetura na Bolívia e, em tempos em que não havia internet nem buscadores eletrônicos, era um sacrifício “garimpar” plantas de projetos exitosos e arrojados como o dos irmãos Costa, tanto que ela fez questão de registrar sua colaboração em seu trabalho de graduação. O triste é que não demorou muito, e num acidente, o genial arquiteto Eudes Costa veio a falecer.

Depois que retornei a Corumbá, em 1984, somente nos vimos, por puro acaso, em 2008, em Campo Grande, num dos terminais de integração de transporte coletivo da capital. Ele havia encerrado seu mandato de presidente do Sindicato dos Arquitetos de Mato Grosso do Sul (Sindarq-MS), e estava feliz por ter conseguido fazer valer o salário-mínimo profissional para a categoria. Mas a sua maior realização, segundo me contara nos poucos minutos de nosso breve e casual encontro, fora o projeto de moradias de interesse social voltado para as camadas populares de todo o estado.

Sempre com brilho nos olhos e sorriso largo, refletindo seu jeito de poeta, sonhador, realizador e sobretudo cidadão engajado nas melhores causas. E, creio, não há causa melhor que a de propiciar moradia a que mais precisa, o nosso povo explorado e excluído. Werton fez história, fez e realizou sonhos, utopias, concretudes e, mais que isso, habitats, em seu sentido mais apropriado. Lembro-me que, logo que o conheci, me contava, em meio à gostosa gargalhada que lhe era peculiar, que seus pais o levaram à sede do glorioso Riachuelo Futebol Clube, nos altos da Rua Frei Mariano, para que participasse de um show de calouros de uma das emissoras de rádio da cidade. Ele, com apenas, 5 aninhos, diante de uma multidão que se apertava na plateia, não conseguia ir além da primeira estrofe, e a mãe, entusiasmada, a incentivá-lo incansavelmente...

Essa é a carinhosa imagem que tenho do Werton, um eterno aprendiz, e como uma criança perene, generoso, risonho, alegre e solícito. Acho que se eternizou para atender a algum chamado para a próxima dimensão, eis que nestes anos de ressaca de um tempo abominável projetos generosos como o que ele vinha realizando não encontrarão fontes de financiamento...

Obrigado, Amigo Werton, por ter-nos ensinado tanto, e até sempre!

Ahmad Schabib Hany

domingo, 31 de março de 2019

AINDA QUE TEIMEM, A HISTÓRIA NÃO ANDA PARA TRÁS...


"Aos amigos tudo, aos inimigos os rigores da lei..." (Bordão do regime de 1964)


AINDA QUE TEIMEM, A HISTÓRIA NÃO ANDA PARA TRÁS...

1964 ficou no passado, e o saudosismo daqueles que não têm projeto de nação e muito menos programa de governo pode tumultuar e causar prejuízos econômicos e sociais -- porque o País não suporta tanto amadorismo e improviso de canastrões --, mas não terão competência política para concretizar algo cujas condições históricas estão longe das necessárias para que pudesse ocorrer.

Ainda que os saudosistas sublimem, que sofismem como têm feito reiteradas vezes, 1964 ficou para trás. Hoje, a despeito de uma vitória eleitoral de pirro (porque, além de fraudada e cheia de vícios, sobretudo legais, o capitão da reserva não soube -- desculpem o quase trocadilho -- capitalizar no momento certo sua legitimação, tamanha sua incompetência política), o Brasil é outra nação, com demandas complexas e, finalmente, com valiosíssimos interesses no concerto das nações.

A similaridade entre 1964 e 2016-2018 (isto é, da deposição de Dilma à “eleição” do ex-tenente imponderável) está na cooptação, por agentes do governo de Washington (via Departamento de Justiça da Casa Branca), de certo número de agentes do Estado brasileiro (juízes, promotores, policiais e auditores fiscais), políticos, empresários e formadores de opinião, além da manipulação, pelos grandes grupos midiáticos, de setores suscetíveis ao discurso golpista (a pseudo classe média, o capital financeiro, rentistas e os setores parasitários da sociedade).

Aliás, as velhas oligarquias perderam seu espaço para uma nova classe econômica pragmática, resoluta e sobretudo eficiente. Sem dúvida, essa nova elite brasileira incorreu num flagrante erro ao embarcar na aventura golpista de Temer, Jucá e Moro, “com Supremo, com tudo”, mas, depois de terem dado o seu voto (nada útil) para o imprevisível ex-tenente rebelde que vive a brincar de presidente, procuram uma equação política por meio do general Mourão, seu vice, que tem tentado se preservar das turbulências provocadas pela pretensa dinastia presidencial...

Recentes artigos elucidativos dos Jornalistas Luís Nassif (sobretudo aquele que revela as relações nada republicanas do Departamento de Justiça e agentes do Estado brasileiro, entre os quais Sérgio Moro e seus colegas da Lava Jato), Mino Carta, Fernando Morais, Alex Solnik, Paulo Henrique Amorim, Kiko Nogueira, Paulo Rovai, Luiz Carlos Azenha, Ricardo Kotscho e Sérgio Guimarães, e análises de Celso Amorim, Jessé Souza e Sérgio Altman elucidam toda e qualquer tentativa de sofismar uma aberração da história como foi aquele período de 21 anos de arbítrio e opressão.

Na verdade, a incompetência e falta de legitimidade dos atuais inquilinos do Palácio da Alvorada os fazem subverter a ordem cronológica e lógica do poder, até no sentido mais conservador. O capitão da reserva remunerada, quase 30 anos obscuro deputado federal, não agrega, não representa e, pior, não articula absolutamente nada, eis porque vive de (sic) “fake news” e de falsas questões, inclusive a de reabrir uma ferida não suficientemente cicatrizada...

Mais que nunca, é hora de que todas as forças sinceramente democráticas -- incluindo as do centro-direita liberal, sem qualquer preconceito -- se dispam de mágoas, vaidades e mesquinharias e façam das ruas o palco da História (com letra maiúscula), para acabar de vez qualquer tentativa funesta de, na falta de programa de governo ou projeto de nação, a imbecilidade que tomou conta dos destinos da nação, retorne ao lugar de onde jamais deveria ter saído: o lixo da História.

Ahmad Schabib Hany

domingo, 24 de março de 2019

ATÉ SEMPRE, SEU PONTES!


Até sempre, Seu Pontes!

Nesta sexta-feira, dia 22 de março, quando se celebra o Dia Mundial da Água e em que o povo se mobilizou, neste ano, contra o desmonte da Previdência Social, a Amiga Célia de Souza enviou mensagem para minha Companheira, Solange, dando conta da eternização, em Campo Grande, de um de nossos padrinhos de casamento e Amigo de décadas e de intermináveis lutas cidadãs, o Senhor José Batista de Pontes, a quem nós sempre chamamos afetuosamente por Seu Pontes.

Depois de ter resistido por longo período a uma impiedosa enfermidade, Seu Pontes teve encerrada a sua existência, de sucessivos desafios, na capital do estado, para onde ele e sua Companheira de Vida, Professora Camila Rosalina Souza de Pontes, se mudaram em 2011. Foi, aliás, naquele ano em que suspendeu suas intensas atividades em Corumbá, iniciada em 1975, quando chegou como militar da Marinha a Ladário, tendo feito memoráveis Amigos, entre os quais o Senhor Arrelus Reclus de Sant’Anna (saudoso Pai da querida Amiga Tânia Nozieres de Sant’Anna, para ele um segundo Pai) e o Senhor Antônio Isaías de Souza (o saudoso Mestrinho, Pai da querida Amiga Célia Regina de Souza), além de sua esposa, a Professora Camila.

Praticamente recém-chegado, e no intuito de melhorar as condições de vida de sua família, Seu Pontes alugou, na esquina da avenida Rio Branco com a rua Cáceres, em Corumbá, um restaurante com o sugestivo nome de “Sopoti”. Para atrair os clientes, jovens em sua maioria, promoveu nas duas emissoras de rádio AM que à época disputavam a audiência da população (Rádio Difusora Mato-grossense e Rádio Clube de Corumbá) uma gincana com um atrativo prêmio para quem descobrisse o que significava “sopoti”. Virou um auê, pois, sem internet e os tais buscadores, os estudantes reviravam bibliotecas e recorriam aos renomados professores corumbaenses e ladarenses para procurar o significado do misterioso nome.

Estávamos em 1977, e os jovens comunicadores Juvenal Ávila, Edson Moraes e o hoje saudoso Augusto Alexandrino “Malah”, nas duas emissoras, capitalizavam a audiência. Mas, para decepção de todos, o mistério foi revelado ao final da temporada pelo próprio patrocinador: era simplesmente “só por ti”! (Talvez uma declaração de amor à sua pretendida, a jovem Professora Camila...) Assim era o multifacético Seu Pontes, e foi como tive o prazer de conhecê-lo, ao lado do Juvenal e dos vencedores do Festival Estudantil da Canção, o mineiro de Alfenas Sidnei Rezende (então companheiro da biomédica responsável da farmácia do Hospital de Caridade, Graça Leão, a querida Dadá), Ênio Contúrbia, Tadeu Vicente Atagiba e Carlos Lima, um jovem intérprete carioca que defendera a primeira colocada, cujo estribilho era um verdadeiro hino à liberdade: “Eu tenho em mim uma razão / Eu vejo em ti indecisão / Então, lute, dispute por seus ideais...”

Depois do “Sopoti”, já casado com a Professora Camila, dedicou-se ao turismo, com a implantação da “Selva Sol Tour”, uma das primeiras operadoras de turismo contemplativo e de aventuras. Foi o primeiro franqueado na região da rede “Albergue da Juventude”, em cujas instalações teve hóspedes célebres, como a hoje precocemente fora das telas Ana Paula Arosio, então de apenas 16 anos. Por conta dessa atividade, dedicou-se à causa do meio ambiente e foi um dos primeiros defensores da “Codrasa”, ao lado de outro pioneiro do turismo, o incansável Jota Carneiro, do “Expresso do Pantanal” e da “Vagão Tour”. Ambos perderam uma fortuna nesse projeto, que só se tornaria uma área de preservação ambiental (APA) em 2010, ainda no derradeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, um conterrâneo seu, mas por quem não nutria qualquer simpatia.

Nascido em Pernambuco no final da década de 1940, Seu Pontes era tomado pela emoção quando contava sobre sua infância de dificuldades no sertão nordestino, o que o levara em tenra idade à Escola de Aprendizes de Marinheiro da capital de seu estado, em 1965. Toda a sua formação inicial fora feita na Marinha, inclusive a primeira profissão, de técnico em enfermagem. Somente depois de aposentado é que pôde cursar Direito, tendo sido de uma das primeiras turmas do extinto Instituto de Ensino Superior do Pantanal (IESPAN), já sob a direção da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Foi, também, da primeira turma do Mestrado em Estudos Fronteiriços do Campus do Pantanal (UFMS), cujo projeto tratou dos direitos da infância e adolescência no Brasil e na Bolívia, um estudo comparado. Além disso, dedicou-se à corretagem de imóveis, sendo um rigoroso aplicador da legislação nessa atividade, com registro no CRECI (um dos poucos em nossa região).

Esse seu temperamento rigoroso lhe trouxe inúmeros revezes na Vida, mas sua lealdade na defesa intransigente da cidadania o tornou uma referência na efetivação do controle social de políticas públicas em nossa região e no estado. Tudo começou ao chegar à presidência do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Corumbá, em substituição ao Professor Reinaldo Santomo, que se mudara para Campo Grande. Graças à coerência de Seu Pontes e à firmeza de sua personalidade, foi possível adequar a legislação municipal às recomendações do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA). Fora uma batalha dura e cheia de pressões de toda natureza, inclusive sobre a Professora Camila, que igualmente soube sair incólume, apesar dos desgastes e significativas perdas de ordem pessoal.

Esteve, lado a lado, na implementação de conquistas na área da Assistência Social, por meio do Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), e da Saúde mediante o Conselho Municipal de Saúde (CMS) e o Conselho Gestor do Hospital de Caridade. Sua resiliência e capacidade de persuasão o habilitaram à coordenação do combativo Fórum Permanente de Entidades Não Governamentais de Corumbá e Ladário (FORUMCORLAD), ao lado de outros cidadãos e cidadãs que a História haverá de perenizar, como Irmã Antônia Brioschi, Irmã Zenaide Britto, Dona Cerise de Campos Barros, técnico sanitarista Vergílio Alves de Morais e seu colega Rafael Candia Fernandes, Professora Camila de Pontes e sua colega Cristiane Sant’Anna de Oliveira, enfermeira Socorro de Maria Pinho, advogada Denise Mansano, ferroviário e Professor Anísio Guilherme da Fonseca, Psicóloga Tânia Nozieres de Sant’Anna e seu colega Aguinaldo Rodrigues, senhor Ariodê Martins Navarro e seu colega (e ex-prefeito) Aurélio Quintiliano da Cruz, Dona Elígia Assad e sua colega Vera Souza, as saudosas Heloísa Helena da Costa Urt e Dona Laura Pinheiro, os saudosos Aurélio Mansilha Tórrez e Pastor Antônio Ribeiro de Souza, entre outros dignos cidadãos e cidadãs que dedicaram o seu melhor a serviço da cidadania e do Estado Democrático de Direito.

Esteve à frente de muitas entidades, das quais faço questão de mencionar a OCCA (Organização de Cidadania, Cultura e Ambiente) e o CENPER (Centro Padre Ernesto de Promoção Humana e Ambiental), de cujas coordenações foi membro-fundador. Representando essas entidades, fez parte da área não governamental do Conselho Municipal do Meio Ambiente (CMMA) e do Conselho Municipal da Cidade (CMC), contribuindo proativamente com os trabalhos e efetivação do controle social e da participação pública nesses lócus. Ironicamente, passou a ser alvo de retaliações de seus próprios pares durante o exercício desses mandatos – para os quais contribuía até financeiramente, diante da burocracia (ou má vontade do gestor de plantão), o que foi determinante para decidir mudar-se com sua esposa para a capital do estado.

Em sua derradeira visita a Corumbá, quando tivemos a honra de tê-lo conosco em casa (como nos tempos das intensas atividades pioneiras do FORUMCORLAD e da OCCA), contou-nos que os fatores que o levaram para a capital foram de ordem pessoal, mas não quis dar detalhes, que nessas questões era muito reservado. Ao se despedir, no entanto, sentimos algo por causa da emotividade, mas logo empreendeu viagem, pois precisava estar ainda naquele dia em Campo Grande. Temos certeza de que viveu intensa e coerentemente com o que pensava, e seu legado de cidadão altivo e ativo está vivo no cotidiano das novas gerações, embora vivamos tempos cruentos de refluxo total, sobretudo na área da cidadania.

Além das gratas recordações, do aprendizado recíproco e de sua peculiar generosidade, fica a imensa saudade de um Amigo que, bem ao seu estilo singular, soube cativar, contribuir e sobretudo consolidar importantes passos que já estão dados, ainda que eventuais mandarins de plantão possam tentar ignorar, minimizar ou anular. Estamos convictos de que tudo teve a sua razão de ser e se não pôde ter sido diferente não se deveu à obstinação do Amigo que quando chegava, tinha uma forma de bater à porta ao seu jeito, e completava “Correio! Telegrama...”

Acredito que assim terá chegado até a sua nova morada, ao lado das tantas pessoas queridas que nos deixaram, e que um dia não muito distante, espero, possamos, ainda que dentro do sonho, da utopia que moveu nossas gerações, conquistar a sociedade fraterna, solidária e justa pela qual tanto todos lutamos, em novas consciências, novas mentes, novos corações, como bem nos ensinou Charles Chaplin.

Força, Professora Camila! Até sempre, Seu Pontes, grande Amigo, e obrigado por tudo que nos ensinou e que partilhou conosco...

Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 8 de março de 2019

8 DE MARÇO. DIA DE LUTA. E DE LUTA.


8 DE MARÇO. DIA DE LUTO. E DE LUTA.

O primeiro Dia Internacional da Mulher a que pude assistir (e do qual participar) foi no antigo anfiteatro do então Centro Pedagógico de Corumbá (CPC), em 1978. Estava no primeiro semestre de Letras, e o evento, pela primeira vez celebrado em ambiente universitário, fora iniciativa da Associação dos Professore(a)s da à época Universidade Estadual de Mato Grosso (UEMT).

Não me esquecerei, jamais, a querida Marlene Terezinha Mourão, a incansável Peninha, Professora e técnica simultaneamente, preparando tudo e um pouco mais. E a hoje saudosa Heloísa Helena da Costa Urt, a eternamente Helô querida, lendo uma crônica da inesquecível Jornalista Irede Aparecida Cardoso (que, mais tarde, viria a ser vereadora de São Paulo, e logo pelo seu Partido dos Trabalhadores). Irede A. Cardoso (como assinava) tem uma pérola na Ilustrada da “Folha de S.Paulo” (de maio de 1981), intitulada “A insólita dama do Pacaembu”, que vale a pena ler e reler.

Hoje, 8 de março de 2019, ano do início de uma nova e perigosamente mais obscurantista idade média -- assim, sem maiúsculas, da mesma estatura do(a)s cúmplices manipulado(a)s que levaram um imbecil destituído de cérebro e de urbanidade ao Planalto --, não posso fazer a solene saudação pelo Dia Internacional da Mulher.

Não há por que comemorar. Só lamentar. É dia de luto, primeiro pela razão de ser desta data: a imolação de dezenas de tecelãs em Nova York, em 1857, que lutavam por direitos hoje igualmente sonegados ou simplesmente surrupiados pelo (sic) “mi(n)to” e seus sequazes, em nome da embolorada (toc, toc, toc!) “modernidade” (por certo, do século XVI).

Luto, sobretudo, por Marielle Franco, inesquecível mártir da resistência, e as milhares de vítimas do feminicídio que recrudesceu no cotidiano brasileiro depois que esta besta fera e seus nefastos sequazes ganharam popularidade no rastro de um golpe promovido por serviçais, travestidos de meritocratas, do império decadente que resiste ao seu fim inevitável, posto que o seu tempo já se esgotou e o lixo da história é sua melhor serventia.

E isso o(a)s canalhas da Casa Branca também terão de engolir: seus “historiadores” chapa-branca, que já andaram transformando o hediondo crime cometido contra as tecelãs em (sic) “lenda”, também vivem a investir contra as ciências humanas e a liberdade de pensamento. Mas é só recorrer às inúmeras hemerotecas e bibliotecas virtuais estadunidenses e europeias para se deparar com fatos ou notícias, ainda que truncadas, sobre episódios que envergonham a humanidade, como as cínicas intervenções militares “em defesa da democracia” na América Latina, as sangrentas carnificinas “em nome da liberdade” no Oriente Médio, a criminosa Guerra do Vietnã, o covarde bombardeio com bomba atômica contra a população civil de Hiroshima e Nagasaki em 1945, depois que a guerra já havia terminado, e o massacre de Chicago de 1º de maio de 1886, em que dezenas de operários da indústria igualmente foram criminosamente mortos pelos meganhas da época, sempre a serviço dos poderosos.

Não é demais recordar que os Estados Unidos não reconhecem oficialmente nenhuma da data histórica de fatos vergonhosos protagonizados por eles, coisa que, pelo andar da carruagem, logo o Brasil também passará a não reconhecer. Basta perguntar ao capetão, ou melhor, tenente quase desertor que se regozija (ou algo mais!) quando vê um fardado americano diante de si.

E de luta, muita luta. A resistência não pode ser apenas nas redes sociais, nas tribunas, nos palanques. Ela terá que ser feita na base, no núcleo, nas entranhas da sociedade, em seu dia a dia, em seu mais profundo e intrincado seio. A sociedade só muda quando a mulher conquista a sua mudança. E essa mudança não é apenas estética, mas íntima. Não é só legal, mas real. Não é, como bem escreveram o(a)s Companheiro(a)s/Camaradas da Causa Operária, apenas presente, mas conquista. Pois, conquista só se atinge com muita luta, e a luta não tem fim, é como a Vida e a própria História, que estão em constante movimento, em constante evolução.

Hoje estamos de luto, em luta. Estamos nos guardando para quando a nova alvorada chegar. Então, a comemoração será real e em homenagem à(ao)s que tombaram na caminhada...

Ahmad Schabib Hany