segunda-feira, 3 de junho de 2019

Escritor aborda o estilo de vida de rua imaginária da sua cidade natal

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LÉIA DA MOTA E SILVA (IN MEMORIAM)


LÉIA DA MOTA E SILVA (IN MEMORIAM)

Neste domingo, dia 2 de junho, chega-nos a fatídica notícia, por meio de minhas irmãs, da eternização da querida Amiga de infância Léia da Mota e Silva, neta dos igualmente queridos e saudosos Amigos de primeira hora, o Senhor Inácio Ramos da Silva e Dona Aniceta da Mota e Silva, que se eternizaram há algumas décadas. A Amiga Léia era filha do saudoso Senhor Leandro da Mota e Silva e irmã do igualmente saudoso Mário da Mota e Silva.

Lembro-me de Léia, ainda criança, brincando ao lado da também saudosa prima Solange, quase da mesma idade de minhas irmãs do meio, e de (se a memória não tiver me traído) Tereza, filha do saudoso Senhor Washington da Mota e Silva e Dona Raquel, na primeira festa junina que vi na Vida, em 1965. Corumbá, na época, cultuava o São João dentro da tradição cuiabana, com pau-de-sebo, fogueira e todas aquelas delícias típicas na frente da casa. Para nós, recém-chegados, tudo aquilo era novidade, e aquela alegria incontida nos cativava, ainda que também nos causasse algum estranhamento.

Pouco menores, as primas Vilma (irmã caçula de Solange), Suzane e Sandra e os primos Aguinaldo e o saudoso Otávio (dois casais de filhos de Dona Natália e de Seu Arruda) também se integraram aos festejos anuais da Família Mota e Silva, em anos posteriores. Então, os filhos do saudoso Dorival da Mota e Silva (o querido Dori) também já estavam crescidos.

Já adolescentes, Léia e Solange eram grandes Amigas de minha irmã Fati, e compartilhavam livros e revistas de todo tipo, além de dedicarem tempo também para os estudos. Lembro-me bem de uma redação da Léia que era de fazer inveja aos mais eruditos alunos dos concorridos professores de Língua Nacional (como a disciplina de Língua Portuguesa era então chamada). Essas duas Amigas eram reconhecidamente estudiosas, muito inteligentes e trabalhadoras, talvez o casamento precoce tivesse contribuído para não prosseguirem com seu projeto de estudos.

Ao revelar-se grande Mãe, Léia priorizou sua Família, apoiando seu único companheiro de Vida e estando presente na trajetória de todos os filhos, entre eles, o Anderson, a Adriana e a Natália, que seguiram seu próprio rumo, mas sem perder o vínculo afetivo com ela. Com todas as adversidades que a Vida lhe apresentou, ela mesma reabilitou o esposo adoentado, sempre com o pulso firme, mas sem perder o afeto, o carinho. Da mesma forma, quando começou a se sentir mal, apesar da angústia, dedicou todo o seu tempo, lúcida e afetuosa, para orientar o filho a continuar a reabilitação do pai e outras providências da Família, como que soubesse que seu tempo estava no limite.

Léia e seu irmão Mário, desde tenra idade, foram assistidos pela Tia e Madrinha Dona Chula, a saudosa Senhora Lucélia da Mota e Silva, filha mais velha de Seu Inácio e Dona Aniceta, que era uma exímia costureira e um ser humano de uma generosidade ímpar. Carros e mais carros com senhoras da sociedade (como se soía dizer na época) paravam na porta de sua casa para encomendar a confecção de roupas de todos os tipos, dos mais simples aos mais sofisticados. Embora solteira, Dona Chula dedicou toda a sua Vida aos afilhados, irmãos, sobrinhos, sobrinhos-netos e demais parentes e amigos que precisassem de ajuda, afeto e atenção. Até o final de seus dias, sem qualquer gesto de esnobismo, viveu a caridade em toda a sua extensão, com profunda leveza, alegria, descontração e irreverência.

A Família Mota e Silva é, ao lado da Família da querida e saudosa Dona Ventura Ferreira e de Dona Eusébia dos Santos, uma referência, para toda a minha Família, da dignidade e hospitalidade do corumbaense “da gema”. Assim que chegamos a Corumbá, depois de termos residido pouco mais de mês aos fundos da loja de armarinhos de meu querido e saudoso Pai, à rua Joaquim Murtinho, entre as ruas Frei Mariano e Antônio Maria (ao lado do açougue do saudoso “Massa Barro”), nos mudamos para o endereço da Família por mais de 50 anos.

A mudança, de aproximadamente duas quadras, foi feita num caminhão modelo “Gigante”, da Chevrolet, pelo saudoso Senhor Jardes, o popular “Teté”, que, poucos anos depois, não resistiu ao ataque de uma boca-de-sapo, no Pantanal, quando foi consertar um trator numa fazenda muito distante. Seu “Teté” era esposo da saudosa e querida Dona Lucinda da Silva Jardes (Dona Lucha), pai da querida e saudosa Solange da Silva Jardes, precocemente eternizada em fins da década de 1990 ao dar à luz sua terceira filhinha, que também se eternizou com a Mãe. Além dela, a também sempre guerreira Vilma da Silva Jardes, filha caçula, hoje residindo com o esposo e o filho em Campo Grande.

O meu primeiro Amigo na Vida -- o Senhor Inácio, além de grande chefe de Família, era magarefe dos tempos dos saladeiros, das charqueadas. Nascido em 1905, depois de aposentado se dedicou à carpintaria até os derradeiros dias de sua existência, interrompida em 1987 --, mais de 50 anos mais velho que eu, era, obviamente, Amigo de meus saudosos Pais, e uma Amizade (dessas com letra maiúscula) foi se desenvolvendo com toda a sua querida Família e a nossa, sem qualquer interesse ou pretensão. Mais que vizinhos, são parte de nossa história em Corumbá.

Hoje, quando a agora saudosa Léia parte para a eternidade e deixa filhos e netos, nos solidarizamos com todos esses queridos Amigos que a Vida nos presenteou, em particular Seu José Milton e Professora Judite, Dona Natália e Seu Arruda, e a Professora Angelita e Seu Jubiraci (o querido Bira). Lembremos que o amor de Seu Inácio e Dona Aniceta é o grande alicerce e conforto para continuar a Jornada infindável. Por isso, força, fé e resignação neste momento de profunda dor e saudade infinita.

Até sempre, Amiga Léia! Sua Amizade sincera viverá sempre em nossos corações...

Ahmad Schabib Hany