UM GOVERNO DE OUTRO MUNDO
Quando você acha que já viu tudo,
vêm mais novidades...
Com
todo respeito, mas nem nosso imortal Dias Gomes – o genial criador de Odorico
Paraguaçu, de O Bem-Amado, que entre
1974 e 1980 abalou homeopaticamente as estruturas do regime de 1964 –teria sido
capaz de imaginar algo tão bizarro quanto estes (sic) “lampejos de lucidez” da mais nova cópula, perdão, cúpula
política brasileira...
Não
é que o, digamos, chanceler da exodiplomacia
Ernesto Araújo fez uma palestra em que defendeu (toc, toc, toc!) o estabelecimento de relações diplomáticas com
seres de outros planetas?! Tal como seu chefe, o futuro ministro das Relações
Exteriores também negou tudo, dizendo tratar-se de “brincadeira”...
Saudades
dos sisudos chanceleres da ditadura Mário Gibson Barbosa, Antônio Azeredo da
Silveira e Ramiro Saraiva Guerrero, que conduziram a diplomacia brasileira com
altivez e sobriedade. Apesar das imposições do regime, quando era o caso,
discreta e polidamente se limitavam a dizer, com a voz grave e solene dos
diplomatas de carreira: “Houve um mal-entendido...”
Brincadeira,
não, nunca, jamais: isso é coisa de “emebelistas, lavajatistas, vemprarruístas
e revanchistas”, para prestar uma homenagem ao atualíssimo Odorico Paraguaçu,
encarnado pelo imortal Paulo Gracindo, de saudosa memória.
Mas,
parodiando um secular ditado espanhol, “o que a natureza não dá, Instituto Rio
Branco não empresta...” (Para os hispanofalantes, “lo que natura no da,
Salamanca no presta”.)
Então
os arremedos de viúva Porcina – “aquela que foi sem nunca ter sido” –, também
da genial criação do camarada Dias Gomes, dirão peremptoriamente que é “ranço
do PT”. Não é: foi o circunspecto “Estadão”, baluarte e porta-voz oficial da
tradição, família e propriedade, que deu o furo (no sentido jornalístico, bem
entendido).
Aliás,
se o saudoso autor de Roque Santeiro
estivesse entre nós, não há dúvida de que finalmente o Nobel de Literatura
viria a contemplar a célebre genialidade brasileira, numa perspicaz amálgama de
Gabriel García Márquez e Eduardo Galeano, ambos também ausentes para
testemunhar até que nível a desfaçatez de nossas elites néscias consegue chegar.
Pior,
quando acreditamos termos chegado ao fundo do poço é quando nos damos conta de
que ainda temos muito mais por submergir. Uma verdadeira tortura. Primeiro, o
ex-quase desertor que vira capitão (e agora presidente eleito) usa o que mais
lhe causa repulsa – os Direitos Humanos! – para “defender” os agora “pobres
cubanos, vítimas de trabalho escravo” (mas trabalhadores rurais em situação de
trabalho escravo, aí é “coisa de comunista”), que já podem pedir penico, digo,
asilo a ele (como que já tivesse tomado posse), mas não sem antes arrogantemente
pôr em dúvida a sua formação de médicos.
O
deliberadamente ignorante da origem do Programa (ou depois Estratégia) de Saúde
da Família, como no Brasil foi denominado, finge não saber que seu ex-aliado
José Serra, quando ministro da Saúde de FHC, trouxe esse know how de Cuba depois de conhecer as experiências pioneiras de Santos
e Fortaleza. Além disso, a medicina cubana é mundialmente reconhecida, inclusive
por seus ídolos da Comunidade Europeia. Para seu raciocínio primário, tal qual
Calabar, “o que é bom para a Holanda, é bom para o Brasil”...
E
depois mais uma (novamente sic)
“fraquejada” para falar em Direitos Humanos. Desta vez dos “pobres” que têm que
se submeter a tratamento (desumano?) prescrito por aqueles médicos (impostores?),
membros de uma missão sanitária coordenada pela Organização Panamericana de
Saúde (OPAS), da qual o Brasil é país-membro. Pois é, capetão, por que não se
lembrou disso quando era deputado de oposição? Ao lado de seu ídolo Caiado,
poderia ter-lhe rendido uma belíssima CPMI (Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito), até para tirar seus obscuros mandatos parlamentares do ostracismo.
Mas
não para aí. Como numa obra de Hitchcock, mal entregou seu pedido de exoneração
o carcereiro-mor da Republiqueta de Curitiba (a contar de 19 de novembro, “a
posteriori”, como que ele tivesse que ter tratamento diferenciado dos demais
servidores públicos), o futuro “super-hiper” da Justiça e Segurança Pública já
começa a convocar seus colegas da Lava Jato para postos-chave de seu futuro ministério.
Não poderia faltar a tristemente célebre delegada cuja operação levou ao suicídio
o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, e, não se dando por
satisfeita, indiciou todos os responsáveis por um ato de desagravo à memória do
Reitor Cancelier (o que a levou para um distante estado do Nordeste).
Esse
é o preço com que pagaremos por não termos agido à altura quando os tais “emebelistas,
lavajatistas, vemprarruístas e revanchistas” iniciavam, em 2013, sua (sic) “jornada cívica” para a sucessão de
atropelos à Constituição Federal de 1988 e as ações ilegais orquestradas por
membros do Executivo, Legislativo e Judiciário. Não nos esqueçamos das palavras
do maestro do golpe, “com Supremo, com tudo”...
Peço
licença à saudosa memória do igualmente magistral José Wilker para trazer à
lembrança seu... Bye, bye, Brasil! E
acrescento: Wellcome, Brazil!
Schabib Hany